domingo, 5 de agosto de 2012

ESQUI COM CRIANÇAS - Las Leñas, Argentina



Valle Las Leñas (2012)



No ano 2000 aprendi a esquiar. No Chile. Ficamos uma semana em Vale Nevado e contratamos um professor de esqui, que nos mostrou como ‘hacer la cuña’ para brecar. Pra mim, que nem conseguia me equilibrar num patins, foi muito difícil: eu tinha medo de cair e tinha medo de não cair (e sair deslizando incontrolavelmente montanha abaixo rumo ao precipício). Mestre Tzen, que já sabia esquiar por experiências anteriores na neve, subiu no teleférico para aproveitar a montanha  e deixou-me no parquinho infantil, sozinha com meu medo. Ali, conheci Vivian, uma mãe chilena sem esqui que, enquanto buscava os filhos com os olhos pelas pistas de esqui, contava-me histórias de pessoas que se arrebentaram na montanha, repetindo: “La nieve es como el fuego!”. Foram dias de medo e cansaço extremo. Mas não desisti. Apesar de mim e de Vivian, no final do terceiro dia de tentativas, consegui descer o morro do parquinho infantil, controlando minha velocidade (hacendo la cuña) e sem cair, muito embora ainda não conseguisse desviar das pessoas à minha frente. Nos dias seguintes, arrisquei usar os meios de elevação para as pistas mais fáceis, ainda com medo, mais muito feliz!
De lá pra cá, tive filhos, outros medos e outras felicidades, mas nunca me esqueci daquela experiência.  Por isso, quando as crianças atingiram uma idade razoável (8 e 6 anos), decidi voltar à neve. Desta vez, com a família toda. E aí já começou minha aventura, pois a escolha da estação de esqui agora deveria levar em conta uma série de variáveis que ignorei na minha primeira viagem: o tempo de vôo, a condição da estrada até a estação (a menos sinuosa possível, o que só o Google Maps tornou passível de verificação)  e, claro, hospedagem ‘pé na neve’, para já sair do quarto com os esquis nos pés (e isso faz toda a diferença).
Assim é que meu critério de busca levou-nos à Argentina, na mendocina Las Leñas, para um mini-week  de três dias, que começou no vôo fretado das cinco da manhã saindo do Aeroparque (o equivalente ao aeroporto de ‘congonhas’ em Buenos Aires) e pousando em Malargüe (a Ituverava do deserto, como descreveram os pequenos). As crianças não dormiram no vôo ou nas horas que se seguiram à nossa chegada, tantas eram as novidades: o deserto, as montanhas nevadas, o hotel, a escolha dos equipamentos de esqui, o estranhamento das apertadas botas, a dificuldade de caminhar com tanta tranqueira, de respirar com tantas camadas de roupas naquela altitude, de usar touca e óculos escuros. Estavam fascinados, mas muito mal humorados, de modo que a tentativa de ensiná-los a descer o morro do parque infantil nos esquis foi recheada de conflitos e chororôs. Porém, nesse primeiro dia percebi que esquiar é como andar de bicicleta: uma vez aprendido, não se esquece nunca! Que felicidade! Eu ainda fazia a cuña! E ligeiras curvas pra lá e pra cá morro abaixo! Por isso, achei que valia o investimento de contratar as caras aulas particulares de esqui na estação para as crianças aprendessem de uma vez por todas a esquiar (as aulas em grupo, com outras crianças, são um pouco mais baratas, mas só valem para quem está hospedado a semana inteira; no mini-week, a única opção é contratar um professor para três horas e meia de aula). Se aproveitariam essa habilidade no futuro, aí era problema deles.
No dia seguinte, as crianças foram levadas morro acima pela professora, cada qual levando seus esquis (coisa que se recusaram terminantemente a fazer no dia anterior, comigo, e por isso me cansei o dobro: de carregar os equipamentos meus e os deles). Enquanto eles obedeciam a professora (que lhes dava comandos em espanhol e fazia demonstrações práticas do que queria ensinar), eu segui o Mestre Tzen, aventurando-me nas pistas! Iurrrú!!! Fiz tudo de errado que poderia fazer (denunciando minha condição de brasileira): caí do Ski-lift – na entrada e na saída –,  subi sem colocar as luvas  – e quase congelei os dedos - , deixei cair meus bastões de esqui do alto da cadeirinha e tive de descer a pista sem eles... porém, não atropelei ninguém, porque dominava meus movimentos e, cada vez que eu descia a montanha eu sentia que estava melhor e errava menos e menos! E as crianças? Bom, quando fui procurá-las no parquinho infantil, não as encontrei... sabe onde estavam? Nas cadeirinhas. Imagina! Estavam em sua terceira ou quarta subida e desciam a pista esquiando com total domínio da velocidade e direção! Viva!!!
Daqui a doze anos, quando voltarmos à montanha, todos saberemos o que fazer!
Quando perguntei    sim, perguntei – o que as crianças tinham achado da experiência, o garoto disse: “Foi muito legal, mas meus amigos nem imaginam o que eu passei para chegar até aqui.”.
Então eu digo: bão procê!

BASTIDORES
BOTAS e CASACOS - Foi um custo encontrar botas impermeáveis para as crianças. Só encontrei na Decathlon de Ribeirão Preto (Quechua), mas aguentaram muito bem o tranco; assim como os casacos térmicos e impermeáveis, que foram muito úteis também em Buenos Aires, quando caiu o maior toró no meio do nosso passeio ao zoológico (as botas e os casacos nos salvaram ali, na chuva do inverno portenho).
UNDERWEAR - Levei dois conjuntos de roupas de baixo térmicas (thermal underwear): uma para bater, que podia ser lavada no banheiro do hotel, e outra para emergências (se a primeira não secasse) ou como pijamas.
MEIAS - As meias  grossas Wed'ze (Decathlon) não serviram pra muita coisa: não secam no hotel e apertam muito dentro das botas de esqui. Por sorte, eu tinha comprado também daquelas meias térmicas pretas e fininhas, que foram perfeitas! Já para as caminhadas na cidade e durante as viagens, usamos meias de lã, compradas nas feiras de Poços de Caldas, que são confortáveis e secam com facilidade.
TOUCAS e GORROS – durante o esqui, as crianças usam capacete (‘casco’) e não as toucas de lã, então, estas apenas serviram para passeios na cidade. Contudo, o ‘gorro cuello’ ou gorro-gola (cabeça/pescoço) é um item fundamental porque é muito versátil  e pode ser usado tanto na cabeça (como gorro) quanto no pescoço (como gola, que, na montanha, evita que o casaco térmico – campera – precise ser fechado totalmente).
FILTRO SOLAR E HIDRATANTE – não importa o que alconteça, não deixe de usar estes itens quando estiver na neve, especialmente o hidratante para a boca (manteiga de cacau).


Valle Las Leñas (2012)


Valle Las Leñas - Hotel Acuario (2012)

Valle Las Leñas - máquina de fazer neve (2012)


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Ribeirão Preto, São Paulo, Brazil