Valle Las Leñas (2012)
No ano 2000 aprendi a esquiar. No Chile. Ficamos uma semana em
Vale Nevado e contratamos um professor de esqui, que nos mostrou como ‘hacer la
cuña’ para brecar. Pra mim, que nem conseguia me equilibrar num patins, foi
muito difícil: eu tinha medo de cair e tinha medo de não cair (e sair
deslizando incontrolavelmente montanha abaixo rumo ao precipício). Mestre Tzen,
que já sabia esquiar por experiências anteriores na neve, subiu no teleférico
para aproveitar a montanha e deixou-me
no parquinho infantil, sozinha com meu medo. Ali, conheci Vivian, uma mãe
chilena sem esqui que, enquanto buscava os filhos com os olhos pelas pistas de
esqui, contava-me histórias de pessoas que se arrebentaram na montanha, repetindo:
“La nieve es como el fuego!”. Foram dias de medo e cansaço extremo. Mas não
desisti. Apesar de mim e de Vivian, no final do terceiro dia de tentativas, consegui
descer o morro do parquinho infantil, controlando minha velocidade (hacendo la
cuña) e sem cair, muito embora ainda não conseguisse desviar das pessoas à
minha frente. Nos dias seguintes, arrisquei usar os meios de elevação para as
pistas mais fáceis, ainda com medo, mais muito feliz!
De lá pra cá, tive filhos, outros medos e outras
felicidades, mas nunca me esqueci daquela experiência. Por isso, quando as crianças atingiram uma
idade razoável (8 e 6 anos), decidi voltar à neve. Desta vez, com a família
toda. E aí já começou minha aventura, pois a escolha da estação de esqui agora deveria
levar em conta uma série de variáveis que ignorei na minha primeira viagem: o
tempo de vôo, a condição da estrada até a estação (a menos sinuosa possível, o
que só o Google Maps tornou passível de verificação) e, claro, hospedagem ‘pé na neve’, para já
sair do quarto com os esquis nos pés (e isso faz toda a diferença).
Assim é que meu critério de busca levou-nos à Argentina, na
mendocina Las Leñas, para um mini-week de três dias, que começou no vôo fretado das
cinco da manhã saindo do Aeroparque (o equivalente ao aeroporto de ‘congonhas’
em Buenos Aires) e pousando em Malargüe (a Ituverava do deserto, como
descreveram os pequenos). As crianças não dormiram no vôo ou nas horas que se
seguiram à nossa chegada, tantas eram as novidades: o deserto, as montanhas
nevadas, o hotel, a escolha dos equipamentos de esqui, o estranhamento das apertadas
botas, a dificuldade de caminhar com tanta tranqueira, de respirar com tantas
camadas de roupas naquela altitude, de usar touca e óculos escuros. Estavam
fascinados, mas muito mal humorados, de modo que a tentativa de ensiná-los a
descer o morro do parque infantil nos esquis foi recheada de conflitos e
chororôs. Porém, nesse primeiro dia percebi que esquiar é como andar de
bicicleta: uma vez aprendido, não se esquece nunca! Que felicidade! Eu ainda
fazia a cuña! E ligeiras curvas pra lá e pra cá morro abaixo! Por isso, achei
que valia o investimento de contratar as caras aulas particulares de esqui na
estação para as crianças aprendessem de uma vez por todas a esquiar (as aulas
em grupo, com outras crianças, são um pouco mais baratas, mas só valem para
quem está hospedado a semana inteira; no mini-week, a única opção é contratar
um professor para três horas e meia de aula). Se aproveitariam essa habilidade
no futuro, aí era problema deles.
No dia seguinte, as crianças foram levadas morro acima pela
professora, cada qual levando seus esquis (coisa que se recusaram terminantemente
a fazer no dia anterior, comigo, e por isso me cansei o dobro: de carregar os
equipamentos meus e os deles). Enquanto eles obedeciam a professora (que lhes
dava comandos em espanhol e fazia demonstrações práticas do que queria ensinar),
eu segui o Mestre Tzen, aventurando-me nas pistas! Iurrrú!!! Fiz tudo de errado
que poderia fazer (denunciando minha condição de brasileira): caí do Ski-lift
– na entrada e na saída –, subi sem
colocar as luvas – e quase congelei os
dedos - , deixei cair meus bastões de esqui do alto da cadeirinha e tive de
descer a pista sem eles... porém, não atropelei ninguém, porque dominava meus movimentos
e, cada vez que eu descia a montanha eu sentia que estava melhor e errava menos
e menos! E as crianças? Bom, quando fui procurá-las no parquinho infantil, não
as encontrei... sabe onde estavam? Nas cadeirinhas. Imagina! Estavam em sua
terceira ou quarta subida e desciam a pista esquiando com total domínio da
velocidade e direção! Viva!!!
Daqui a doze anos, quando voltarmos à montanha, todos
saberemos o que fazer!
Quando perguntei – sim, perguntei – o que as crianças tinham
achado da experiência, o garoto disse: “Foi muito legal, mas meus amigos nem
imaginam o que eu passei para chegar até aqui.”.
Então eu digo: bão procê!
BASTIDORES
BOTAS e CASACOS - Foi um custo encontrar botas impermeáveis
para as crianças. Só encontrei na Decathlon de Ribeirão Preto (Quechua), mas
aguentaram muito bem o tranco; assim como os casacos térmicos e impermeáveis,
que foram muito úteis também em Buenos Aires, quando caiu o maior toró no meio
do nosso passeio ao zoológico (as botas e os casacos nos salvaram ali, na chuva
do inverno portenho).
UNDERWEAR - Levei dois conjuntos de roupas de baixo térmicas
(thermal underwear): uma para bater,
que podia ser lavada no banheiro do hotel, e outra para emergências (se a
primeira não secasse) ou como pijamas.
MEIAS - As meias
grossas Wed'ze (Decathlon) não serviram pra muita coisa: não secam no
hotel e apertam muito dentro das botas de esqui. Por sorte, eu tinha comprado
também daquelas meias térmicas pretas e fininhas, que foram perfeitas! Já para
as caminhadas na cidade e durante as viagens, usamos meias de lã, compradas nas
feiras de Poços de Caldas, que são confortáveis e secam com facilidade.
TOUCAS e GORROS – durante o esqui, as crianças usam capacete
(‘casco’) e não as toucas de lã, então, estas apenas serviram para passeios na
cidade. Contudo, o ‘gorro cuello’ ou gorro-gola (cabeça/pescoço) é um item fundamental
porque é muito versátil e pode ser usado
tanto na cabeça (como gorro) quanto no pescoço (como gola, que, na montanha,
evita que o casaco térmico – campera – precise ser fechado totalmente).
FILTRO SOLAR E HIDRATANTE – não importa o que alconteça,
não deixe de usar estes itens quando estiver na neve, especialmente o
hidratante para a boca (manteiga de cacau).
Valle Las Leñas (2012)
Valle Las Leñas - Hotel Acuario (2012)
Valle Las Leñas - máquina de fazer neve (2012)